Os donos do projeto de Belo Monte estão sentindo na pele o efeito que desencadearam na região de Altamira por causa da construção da usina: uma inflação imobiliária desenfreada, que já contaminou o valor dos imóveis para aluguel e turbinou o preço do metro quadrado da terra na região.
Até um ano atrás, o metro quadrado custava R$ 20. Agora é encontrado por R$ 100, R$ 150. Há áreas em que o preço já chega a R$ 200. Altamira, onde não há grandes apelos turísticos, está com seus hotéis entupidos. Para achar um quarto na cidade é preciso ligar com pelo menos uma semana de antecedência. O valor do aluguel de um apartamento bem localizado, próximo ao centro da cidade, já chega a fazer frente ao preço de qualquer imóvel nas grandes cidades como Brasília, Rio ou São Paulo. Uma quitinete chega a custar até R$ 2,7 mil por mês.
A explosão inflacionária está dificultando as coisas para o próprio consórcio Norte Energia, antes mesmo do início da obra. O projeto de Belo Monte prevê que a empresa construa 500 casas na cidade de Altamira e outras 2,5 mil casas em Vitória do Xingu, os municípios que serão mais afetados pela obra. São residências para funcionários. Pelo plano, as casas seriam espalhadas pela cidade, para evitar a formação de vilas isoladas, sem integração com o comércio da cidade e a comunidade de moradores. A escalada imobiliária, porém, tem feito com que a empresa procure alternativas mais afastadas. "Realmente está difícil concentrar as construções na cidade, seja pelo custo ou pelas limitações de área. Não estou vendo muita alternativa senão procurarmos uma região fora", diz José Menezes Biagioni, superintendente de obras de compensação da Norte Energia.
A construção das casas para os funcionários é, na realidade, a menor parte do problema. A Norte Energia ainda está estudando onde irá reassentar 20 mil pessoas que serão removidas dos locais onde vivem por causa das inundações que a represa do Xingu irá provocar.
A cidade está acompanhando o assunto com lupa. Vilmar José Soares, coordenador do Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), que reúne centenas de instituições da região, lembra que a obrigação do consórcio, por contrato, é construir as residências em um perímetro que não ultrapasse sete quilômetros do centro. "Sabemos que eles estão negociando áreas distantes e que já pediram até para analisar documentações. Já estamos com uma ação judicial pronta nas mãos caso eles não cumpram o que foi acordado", diz. "Queremos a obra, mas não queremos criar guetos, temos de evitar desastres sociais como vimos em outras obras do mesmo tipo."
Pelas contas do Fort Xingu, de janeiro até agora 5 mil pessoas já se mudaram para a região de Altamira, que conta com 105 mil habitantes. Apesar da falta de estrutura para lidar com uma migração em massa, há quem esteja se preparando. Duas redes de supermercado de Belém, Yamada e Líder, estão comprando terrenos na cidade. Há uma série de lojas e restaurantes em construção.
Edina Regina Campioni, dona da loja de pneus SL Pneus, diz que esperava a obra a anos. Em 2009, foi a até a Brigdestone e conseguiu montar uma autorizada da fabricante na cidade. "Me preparei. Hoje só uso 30% da minha capacidade, mas sei que a demanda vai crescer. Já tenho pneus para carro, caminhão, máquina pesada, o que vier", diz.
As ambições também não são modestas para Odair de Pinho, vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropastoril de Altamira (Aciapa). Dono de uma loja de equipamentos de informática e de uma escola de curso técnico, ele acaba de ganhar uma licença para erguer a primeira faculdade privada da cidade. Hoje há uma federal e uma estadual instalada no município.
Nessa rota do desenvolvimento, o receio de Altamira e dos dez municípios da região do Xingu é sofrer a realidade já comum a outras cidades pequenas que foram cenário de grandes obras do país, mas ficaram à margem do desenvolvimento. O governo federal promete uma ação coordenada para garantir o crescimento sustentável do complexo do Xingu e hoje se reúne com empresários, prefeitos e organizações, em Altamira, para reafirmar esse compromisso. A cidade não vai esperar muito. A cinco quilômetros da aldeia Juruna, próximo ao local onde será instalado um canteiro de obras, um comerciante já anunciou a abertura de seu "centro noturno de lazer". A inauguração ocorre em dez dias.
Até um ano atrás, o metro quadrado custava R$ 20. Agora é encontrado por R$ 100, R$ 150. Há áreas em que o preço já chega a R$ 200. Altamira, onde não há grandes apelos turísticos, está com seus hotéis entupidos. Para achar um quarto na cidade é preciso ligar com pelo menos uma semana de antecedência. O valor do aluguel de um apartamento bem localizado, próximo ao centro da cidade, já chega a fazer frente ao preço de qualquer imóvel nas grandes cidades como Brasília, Rio ou São Paulo. Uma quitinete chega a custar até R$ 2,7 mil por mês.
A explosão inflacionária está dificultando as coisas para o próprio consórcio Norte Energia, antes mesmo do início da obra. O projeto de Belo Monte prevê que a empresa construa 500 casas na cidade de Altamira e outras 2,5 mil casas em Vitória do Xingu, os municípios que serão mais afetados pela obra. São residências para funcionários. Pelo plano, as casas seriam espalhadas pela cidade, para evitar a formação de vilas isoladas, sem integração com o comércio da cidade e a comunidade de moradores. A escalada imobiliária, porém, tem feito com que a empresa procure alternativas mais afastadas. "Realmente está difícil concentrar as construções na cidade, seja pelo custo ou pelas limitações de área. Não estou vendo muita alternativa senão procurarmos uma região fora", diz José Menezes Biagioni, superintendente de obras de compensação da Norte Energia.
A construção das casas para os funcionários é, na realidade, a menor parte do problema. A Norte Energia ainda está estudando onde irá reassentar 20 mil pessoas que serão removidas dos locais onde vivem por causa das inundações que a represa do Xingu irá provocar.
A cidade está acompanhando o assunto com lupa. Vilmar José Soares, coordenador do Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), que reúne centenas de instituições da região, lembra que a obrigação do consórcio, por contrato, é construir as residências em um perímetro que não ultrapasse sete quilômetros do centro. "Sabemos que eles estão negociando áreas distantes e que já pediram até para analisar documentações. Já estamos com uma ação judicial pronta nas mãos caso eles não cumpram o que foi acordado", diz. "Queremos a obra, mas não queremos criar guetos, temos de evitar desastres sociais como vimos em outras obras do mesmo tipo."
Pelas contas do Fort Xingu, de janeiro até agora 5 mil pessoas já se mudaram para a região de Altamira, que conta com 105 mil habitantes. Apesar da falta de estrutura para lidar com uma migração em massa, há quem esteja se preparando. Duas redes de supermercado de Belém, Yamada e Líder, estão comprando terrenos na cidade. Há uma série de lojas e restaurantes em construção.
Edina Regina Campioni, dona da loja de pneus SL Pneus, diz que esperava a obra a anos. Em 2009, foi a até a Brigdestone e conseguiu montar uma autorizada da fabricante na cidade. "Me preparei. Hoje só uso 30% da minha capacidade, mas sei que a demanda vai crescer. Já tenho pneus para carro, caminhão, máquina pesada, o que vier", diz.
As ambições também não são modestas para Odair de Pinho, vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropastoril de Altamira (Aciapa). Dono de uma loja de equipamentos de informática e de uma escola de curso técnico, ele acaba de ganhar uma licença para erguer a primeira faculdade privada da cidade. Hoje há uma federal e uma estadual instalada no município.
Nessa rota do desenvolvimento, o receio de Altamira e dos dez municípios da região do Xingu é sofrer a realidade já comum a outras cidades pequenas que foram cenário de grandes obras do país, mas ficaram à margem do desenvolvimento. O governo federal promete uma ação coordenada para garantir o crescimento sustentável do complexo do Xingu e hoje se reúne com empresários, prefeitos e organizações, em Altamira, para reafirmar esse compromisso. A cidade não vai esperar muito. A cinco quilômetros da aldeia Juruna, próximo ao local onde será instalado um canteiro de obras, um comerciante já anunciou a abertura de seu "centro noturno de lazer". A inauguração ocorre em dez dias.
Fonte: Valor Econômico