Um caso suspeito de uma rara doença, cujos sintomas são semelhantes ao da doença de Creutzefeldt-Jakob, conhecida popularmente como a variação para humanos do ‘Mal da Vaca Louca’, foi registrado no Pará. A vítima é um engenheiro florestal de 45 anos. Há duas semanas o Ministério da Saúde descartou a hipótese de contaminação por carne bovina, mas a Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) admite desconhecer a origem da contaminação do paciente.
“É uma doença priônica, da qual ainda não conhecemos o modo com que foi transmitida ao paciente. Sabemos que é uma doença rara, na qual em 80% dos casos o modo de transmissão é desconhecido”, diz a chefe da Divisão de Vigilância da Sespa, Ana Lúcia Ferreira.
Doenças priônicas são males progressivos, de ocorrência imprevisível, quase sempre fatais e que afetam, principalmente, o sistema nervoso central, sem cura e sem possibilidade de tratamento depois de instalada. “É uma doença que vai degenerando o cérebro e para a qual, infelizmente, não há cura”, diz Ana Lúcia Ferreira.
“Ainda é uma doença da qual sabemos pouco e que estamos investigando. Está sendo feita análise genética do paciente, para tentarmos descobrir a origem da contaminação. Mas ainda estamos tateando, porque temos poucos médicos que estejam estudando essas doenças”, diz Ana Lúcia Ferreira.
O caso foi repassado diretamente ao secretário nacional de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa. A informação sobre a suspeita da doença chegou ao conhecimento da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) no dia 7 de outubro de 2011. Um e-mail notificava sobre um caso suspeito de doença de Creutzfeldt-Jakob. A investigação foi iniciada imediatamente, com o deslocamento de uma equipe até a casa de familiares do paciente.
A equipe foi recebida pela esposa e pela irmã do engenheiro florestal. Ele morava há quatro anos no município de Uruará. Trabalhava como engenheiro florestal da Emater desenvolvendo atividades em várias localidades próximas ao município. Em abril de 2011, foi transferido para Santarém.
Foi nesse período que os sintomas começaram a surgir, segundo informações prestadas pelos familiares à equipe da Vigilância Epidemiológica. A doença teve início com dor na coluna e perda de peso. O engenheiro teria chegado a perder 10 kg no período de abril a julho, evoluindo com diminuição da percepção visual, insônia, desequilíbrio motor, confusão mental e ptose palpebral, que é a queda da pálpebra sobre o olho.
O engenheiro recebeu atendimento médico em Santarém. Lá, realizou ressonância magnética e, segundo informações dos familiares à Sesma, nada foi constatado. No dia 13 de agosto, ele foi trazido a Belém. No dia seguinte, foi internado no Hospital Porto Dias, onde permaneceu até o dia 29 de agosto. Foi submetido a vários exames, como ressonância - sem resultados significativos - e punção para coleta de LCR para diagnóstico de meningite, que também não foi confirmada.
A DOENÇA PRIÔNICA
De acordo com a Sespa, o mal que atingiu o engenheiro florestal paraense é do tipo de doença priônica, que são, segundo a história médica, progressivas, de ocorrência imprevisível, invariavelmente fatais e afetam, principalmente, o sistema nervoso central, sem resposta imune e nem tratamento.
“Mal da Vaca Louca” foi cogitado, mas descartado
O engenheiro florestal recebeu alta médica no dia 29 de agosto. No mesmo dia, foi levado pelos familiares para o Hospital Adventista de Belém. Nos registros do HAB, consta que ele deu entrada no hospital no dia 29 e recebeu alta no dia 9 de setembro.
Dois médicos teriam avaliado o funcionário concursado da Emater. Um dos médicos teria informado que poderia ser uma doença priônica. Mesmo assim, não teriam sido feitos exames específicos para diagnóstico.
Outro médico teria suspeitado de Doença de Lyme, tendo realizado exame no Laboratório Paulo Azevedo, com resultado negativo. A Doença de Lyme é causada por uma bactéria encontrada em um carrapato e cujos sintomas são confundidos às vezes com febre reumática.
Uma bateria de exames foi feita no Instituto Evandro Chagas, por iniciativa da própria família. De toxoplasmose a HIV, passando por rubéola, hepatites, megalovírus, vários testes foram feitos, sempre
com resultado negativo.
Ainda no início de setembro, o engenheiro florestal foi para São Paulo, ficando hospitalizado na Beneficente Portuguesa. Segundo o relato da família à equipe da Sesma, os sinais e sintomas estavam mais acentuados. O paciente apresentava, inclusive, confusão mental. Em São Paulo, foram realizados diversos exames. Entre eles, ressonância magnética e LCR, um exame específico para o diagnóstico de doenças neurológicas.
O laudo da ressonância magnética descreve, na linguagem técnica específica, que havia compatibilidade com a suspeita clínica de envolvimento por doença priônica, no caso, a doença de Creutzefeldt-Jakob, a variação para humanos da síndrome da ‘Vaca Louca’, mas como a contaminação, segundo o Ministério da Saúde, não teria sido através da ingestão de carne bovina, a possibilidade de ser o ‘Mal da Vaca Louca’ foi descartada.
O engenheiro retornou a Belém no final de setembro. Por recomendação médica, foi para o Hospital Guadalupe para avaliação. Ficou internado na UTI onde permaneceu por mais ou menos três semanas. Recebeu alta e passou a ser cuidado pela mãe. O engenheiro estaria apático, sem controle de movimentos, recebendo alimentação por sonda nasogástrica, que vai das narinas até o estômago. Também estaria sem
controle de evacuação.
No relatório enviado ao Ministério da Saúde, a que o DIÁRIO teve acesso com exclusividade, a equipe de investigação da Sesma sugere, logo após as primeiras investigações, a necessidade de um trabalho conjunto entre as secretarias municipal e estadual de Saúde, envolvendo outros segmentos como Vigilância Sanitária e órgãos de defesa agropecuária. O relatório é assinado por três técnicas da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Belém. À Sesma, a família do paciente informou querer sigilo sobre o caso e que não falaria à imprensa.
VACA LOUCA
A Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) é transmissível a seres humanos pelo consumo de carne contaminada. No gado, ela ficou conhecida como Síndrome da Vaca Louca . Em pessoas, caracteriza-se por infecção generalizada do cérebro, decorrente da multiplicação da infecção em outras partes do organismo. (Diário do Pará)
“É uma doença priônica, da qual ainda não conhecemos o modo com que foi transmitida ao paciente. Sabemos que é uma doença rara, na qual em 80% dos casos o modo de transmissão é desconhecido”, diz a chefe da Divisão de Vigilância da Sespa, Ana Lúcia Ferreira.
Doenças priônicas são males progressivos, de ocorrência imprevisível, quase sempre fatais e que afetam, principalmente, o sistema nervoso central, sem cura e sem possibilidade de tratamento depois de instalada. “É uma doença que vai degenerando o cérebro e para a qual, infelizmente, não há cura”, diz Ana Lúcia Ferreira.
“Ainda é uma doença da qual sabemos pouco e que estamos investigando. Está sendo feita análise genética do paciente, para tentarmos descobrir a origem da contaminação. Mas ainda estamos tateando, porque temos poucos médicos que estejam estudando essas doenças”, diz Ana Lúcia Ferreira.
O caso foi repassado diretamente ao secretário nacional de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa. A informação sobre a suspeita da doença chegou ao conhecimento da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) no dia 7 de outubro de 2011. Um e-mail notificava sobre um caso suspeito de doença de Creutzfeldt-Jakob. A investigação foi iniciada imediatamente, com o deslocamento de uma equipe até a casa de familiares do paciente.
A equipe foi recebida pela esposa e pela irmã do engenheiro florestal. Ele morava há quatro anos no município de Uruará. Trabalhava como engenheiro florestal da Emater desenvolvendo atividades em várias localidades próximas ao município. Em abril de 2011, foi transferido para Santarém.
Foi nesse período que os sintomas começaram a surgir, segundo informações prestadas pelos familiares à equipe da Vigilância Epidemiológica. A doença teve início com dor na coluna e perda de peso. O engenheiro teria chegado a perder 10 kg no período de abril a julho, evoluindo com diminuição da percepção visual, insônia, desequilíbrio motor, confusão mental e ptose palpebral, que é a queda da pálpebra sobre o olho.
O engenheiro recebeu atendimento médico em Santarém. Lá, realizou ressonância magnética e, segundo informações dos familiares à Sesma, nada foi constatado. No dia 13 de agosto, ele foi trazido a Belém. No dia seguinte, foi internado no Hospital Porto Dias, onde permaneceu até o dia 29 de agosto. Foi submetido a vários exames, como ressonância - sem resultados significativos - e punção para coleta de LCR para diagnóstico de meningite, que também não foi confirmada.
A DOENÇA PRIÔNICA
De acordo com a Sespa, o mal que atingiu o engenheiro florestal paraense é do tipo de doença priônica, que são, segundo a história médica, progressivas, de ocorrência imprevisível, invariavelmente fatais e afetam, principalmente, o sistema nervoso central, sem resposta imune e nem tratamento.
“Mal da Vaca Louca” foi cogitado, mas descartado
O engenheiro florestal recebeu alta médica no dia 29 de agosto. No mesmo dia, foi levado pelos familiares para o Hospital Adventista de Belém. Nos registros do HAB, consta que ele deu entrada no hospital no dia 29 e recebeu alta no dia 9 de setembro.
Dois médicos teriam avaliado o funcionário concursado da Emater. Um dos médicos teria informado que poderia ser uma doença priônica. Mesmo assim, não teriam sido feitos exames específicos para diagnóstico.
Outro médico teria suspeitado de Doença de Lyme, tendo realizado exame no Laboratório Paulo Azevedo, com resultado negativo. A Doença de Lyme é causada por uma bactéria encontrada em um carrapato e cujos sintomas são confundidos às vezes com febre reumática.
Uma bateria de exames foi feita no Instituto Evandro Chagas, por iniciativa da própria família. De toxoplasmose a HIV, passando por rubéola, hepatites, megalovírus, vários testes foram feitos, sempre
com resultado negativo.
Ainda no início de setembro, o engenheiro florestal foi para São Paulo, ficando hospitalizado na Beneficente Portuguesa. Segundo o relato da família à equipe da Sesma, os sinais e sintomas estavam mais acentuados. O paciente apresentava, inclusive, confusão mental. Em São Paulo, foram realizados diversos exames. Entre eles, ressonância magnética e LCR, um exame específico para o diagnóstico de doenças neurológicas.
O laudo da ressonância magnética descreve, na linguagem técnica específica, que havia compatibilidade com a suspeita clínica de envolvimento por doença priônica, no caso, a doença de Creutzefeldt-Jakob, a variação para humanos da síndrome da ‘Vaca Louca’, mas como a contaminação, segundo o Ministério da Saúde, não teria sido através da ingestão de carne bovina, a possibilidade de ser o ‘Mal da Vaca Louca’ foi descartada.
O engenheiro retornou a Belém no final de setembro. Por recomendação médica, foi para o Hospital Guadalupe para avaliação. Ficou internado na UTI onde permaneceu por mais ou menos três semanas. Recebeu alta e passou a ser cuidado pela mãe. O engenheiro estaria apático, sem controle de movimentos, recebendo alimentação por sonda nasogástrica, que vai das narinas até o estômago. Também estaria sem
controle de evacuação.
No relatório enviado ao Ministério da Saúde, a que o DIÁRIO teve acesso com exclusividade, a equipe de investigação da Sesma sugere, logo após as primeiras investigações, a necessidade de um trabalho conjunto entre as secretarias municipal e estadual de Saúde, envolvendo outros segmentos como Vigilância Sanitária e órgãos de defesa agropecuária. O relatório é assinado por três técnicas da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Belém. À Sesma, a família do paciente informou querer sigilo sobre o caso e que não falaria à imprensa.
VACA LOUCA
A Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) é transmissível a seres humanos pelo consumo de carne contaminada. No gado, ela ficou conhecida como Síndrome da Vaca Louca . Em pessoas, caracteriza-se por infecção generalizada do cérebro, decorrente da multiplicação da infecção em outras partes do organismo. (Diário do Pará)