De Brasília - A decisão do governo de suspender temporariamente todas as licitações tocadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), após as denúncias de corrupção que atingem a Pasta dos Transportes, pode mexer com a eficiência logística programada para Belo Monte. O novo ministro dos Transportes, Paulo Passos, já sinalizou que vai tentar destravar algumas obras que poderiam ser prejudicadas se perderem a "janela hidrológica", ou seja, o período de seca.
Em Belo Monte, todas as atenções voltam-se para a BR-230, a Transamazônica. Boa parte dos funcionários, equipamentos e insumos da obra passarão por essa rodovia. Hoje, a Transamazônica é a única estrada que liga a pequena vila de Belo Monte, onde será construída a casa de força principal da hidrelétrica, às principais cidades vizinhas de Altamira e Marabá. A situação atual da rodovia é de total precariedade. São centenas de quilômetros de terra e buracos onde, durante os meses de chuva, ninguém consegue passar.
O Dnit, segundo Luiz Fernando Rufato, diretor de construção do consórcio Norte Energia, já havia sinalizado que iria asfaltar pelo menos 80 quilômetros da Transamazônica, até Altamira.
Com 4.977 quilômetros de extensão, dos quais apenas 1.672 estão pavimentados, a Transamazônica começa no município de Cabedelo (PB) e segue até Benjamin Constant (AM), na fronteira com o Peru. O traçado corta sete Estados: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas.
Um dos trechos mais complicados da estrada localiza-se justamente no Pará, onde será construída a hidrelétrica. Dono do maior trecho da BR-230, com 1.569 quilômetros, o Pará tem apenas 225 quilômetros da Transamazônica devidamente pavimentados. Outros 907 quilômetros, segundo informações do Dnit, já estariam com a pavimentação em andamento ou em processo de licitação. Se o cronograma do Dnit for mantido, esses 907 quilômetros estarão asfaltados até dezembro de 2013, com investimento da ordem de R$ 1,1 bilhão. A sonhada pavimentação de toda a Transamazônica está prevista para até dezembro de 2016. Entre suas obras está a construção de uma ponte sobre o rio Madeira, no município de Humaitá (AM), com mais de um quilômetro de extensão.
Na pequena vila de Belo Monte, está prevista a construção de uma ponte para cruzar o rio Xingu, ligando o vilarejo ao município de Anapú. A falta de licenciamento ambiental, segundo Vilmar Soares, coordenador-geral do Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), também é fator de preocupação.
O Dnit prevê a pavimentação de 700 quilômetros entre os municípios de Marabá e Rurópolis, mas 530 quilômetros ainda dependem de liberação de licença ambiental do Ibama e de autorizações da Fundação Nacional do Índio (Funai). "Não podemos conceber que se construa Belo Monte e continuemos sem estrada para escoar a produção regional", diz Vilmar Soares. "Lutamos durante mais de 30 anos para que a hidrelétrica saísse do papel. A pavimentação da Transamazônica é vista pela região como uma condição para que Belo Monte seja construída."
A partir da Transamazônica, o consórcio Norte Energia vai trabalhar na abertura de diversas estradas que ligarão os vários canteiros de obras e alojamentos de Belo Monte. Luiz Fernando Rufato, diretor de construção do consórcio, calcula que nada menos que 400 quilômetros de estrada serão abertas na mata e pavimentadas com cascalho. Boa parte desse trecho já são "travessões", estradas estreitas de terra que dão acesso a pequenas vilas e sítios.
Quando a barragem de Belo Monte estiver pronta e entrar em operação, comenta Rufato, alguns quilômetros da Transamazônica ficarão embaixo d'água. Nesses locais serão construídos trechos elevados e desvios para não interromper a rodovia.