Domingo é um dia decisivo para o Estado do Pará. Neste dia 11, o Estado todo vota a favor ou contra a criação dos estados de Tapajós e de Carajás. A proposta é resultado de uma reinvindicação antiga das regiões sul e oeste, que reclamam de abandono e ausência de ações do poder público nas regiões.
Há mais de um ano o estado se divide nas discussões pró e contra a divisão. Partidários da divisão afirmam que ela facilitaria a gestão de todas as regiões paraenses e ampliaria os recursos federais destinados a essas áreas; já os defensores da manutenção das atuais fronteiras temem que a cisão empobreça a região que permaneceria como Pará.
Foi na sexta-feira, 11 de novembro, quando começaram a ser veiculadas na televisão as campanhas contra e a favor da proposta de divisão do Pará, em até três estados, que as discussões se aqueceram de vez nas ruas.
As frentes pró-Carajás e Tapajós têm 20 minutos diários de propaganda, mesmo tempo da frente contrária à divisão do estado. Até lá, apesar de contar apenas com comícios, cartazes e adesivos, os dois lados se movimentam para conquistar os eleitores.
"A elite política e empresarial já tem opinião formada, mas o povão que decide não”, afirmou o deputado federal Giovanni Queiroz (PDT-PA), um dos principais mobilizadores em prol da divisão de Carajás.
"Quem for mais competente na campanha e tiver melhor argumentação leva.", disse Queiroz ao dizer que são os municípios do “norte” ou “região metropolitana” que definir o resultado da eleição. Segundo o deputado, é nesta região que as equipes das frentes Pró-Carajás e Pró-Tapajós tem que mostrar competência na argumentação.
O ex-prefeito de Redenção, Jorge Paulo (PMN), conhecido popularmente como JPC, também é a favor da divisão do estado. Segundo ele, a nova organização propiciará mais desenvolvimento e oportunidades para as três regiões. “Com certeza vai melhor para todos. Para o Pará, para Tapajós e para Carajás. Lógico que existe uma questão envolvendo o sentimento de divisão, o sentimento de perda dos paraenses. Mas temos que entender que dividir não é perder. Pelo contrário, dividir é ganhar mais foco na administração das três regiões e mais benefícios para todos os moradores”, destacou JPC.
Ainda segundo ele, é preciso entender que não serão levantados muros ou barreiras entre os estados. "Será apenas uma divisão política que vai beneficiar a todos, ninguém será punido ou castigado por isso. Um exemplo claro do sucesso das propostas de divisões é o estado do Tocantins”, destacou ao explicar que considera o Tocantins um case de sucesso, onde houve melhorias consideráveis para a qualidade de vida da população.
“Goiás também foi beneficiado com a divisão do Tocantins. O governo estadual não tinha condições de administrar com qualidade todo o estado. As distancias era muito grandes e o povo sofria muito com a ausência de ações públicas”, finalizou.
A proposta
Cerca de 4,8 milhões de eleitores devem comparecer ás urnas para do Pará no dia 11 de dezembro. O estado, em questão é um gigante com 1,2 milhão de quilômetros quadrados, rico em recursos naturais, para se ter uma ideia fica no Pará a maior jazida de ferro do planeta, mas apenas 1,4% de participação no Produto Interno Bruto (PIB), com indicadores sociais sofríveis e palco de violenta disputa pela posse e uso da terra.
O plebiscito está sendo apontado por historiadores como uma oportunidade única para discutir não apenas a divisão administrativa do Pará mas também o modelo de desenvolvimento que o país quer para a Amazônia. O estado, ainda vivem em bases lançadas na época do “Milagre Econômico”, nos anos 1970, fincadas na teia de estradas rasgadas na selva, na pata do boi e no avanço desordenado de frentes econômicas.
Mobilização a favor chega ao Tocantins
Um grande movimento para fazer com que os eleitores voltem para casa para votar está sendo realizado. “Aqui em Redenção, nossos filhos tem que fazer faculdade fora, porque a cidade não tem condições de segurar a juventude aqui para estudar. Estamos fazendo uma grande movimentação para trazê-los de volta para votar. Por que a divisão também é um sonho deles”, destacou a dona de casa Luciana Martins.
Em Gurupi, há 240 km de Palmas, são muitos os estudantes de Redenção que cursam universidade. Os alunos se reuniram, fretaram um ônibus e vão participar do plebiscito. “O sonho de divisão é de nossos avós e faz parte da nossa história. Quem conhece a região sabe que tudo é muito difícil”, destacou o estudante de agronomia Danilo Macedo.
Já o estudante de medicina Guilherme Batista disse que vai comparecer ao plebiscito por acreditar em condições melhores de vida para o povo da região. “A vida no sul do Pará é muito sofrida. O acesso é difícil, faltam médicos, faltam escolas, não se tem acesso a tecnologia com qualidade. A região é esquecida pelo governo paraense. Eu voto sim pela esperança de ver minha cidade, meus pais, com condições melhores de vida”, destacou.
Daniela Gusmão, administradora residente em Palmas, também retornará a sua cidade natal, Marabá, para votar sim por Tapajós. De acordo com Daniela, só quem conhece a região ou precisou de algum serviço público estadual por lá sabe o que é o abandono. “O nosso voto será decisivo para vermos a cidade, a terra que a gente ama e tem orgulho em fazer parte crescer. Não acredito que continuando ligada ao Estado do Pará, a região de Carajás tenha possibilidade de crescimento”, disse justificando o voto.
Outro argumento bastante utilizado por empresários das regiões que buscam a divisão é que a relação com o Estado do Pará é de mão única. Ou seja, as regiões que são ricas comercialmente, como Paraopebas e Marabá, ou destaque no agronegócio, como Redenção, pagam impostos e contribuem com o estado que não faz as melhorias na região.
“Não temos estradas para escoar a produção. Não temos incentivos comerciais. Não temos segurança. Somos conhecidos como terra de ninguém. É preciso mudar isso rapidamente”, destacou o agropecuarista Manoel Garcia.
O estudante Guilherme coloca ainda que a divisão é uma forma de tentar equilibrar a situação entre as regiões envolvidas no plebiscito. “Para se ter uma idéia, quando você passa mal ou fica doente na região sul o melhor hospital é uma UTI aérea que vai te levar para Palmas ou Goiania. De carro não dá pra sair porque o paciente pode morrer na estrada, graças ou aos baques ou a acidentes causados pela precariedade da malha rodoviária. Imagine como é que vivem as pessoas mais humildes”, explica.
Contrários estão concentrados em Belém
A região metropolitana que é mais populosa e tem mais eleitores tem se posicionado contra a divisão do estado em três. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Data Folha, no início deste mês, mostrou que quase 60% da população é contrária a divisão do estado.
Pelos analistas a situação não é fácil, já que 60% do eleitorado a se manifestar no plebiscito está concentrado na região de Belém e adjacências, sede do governo contra a qual se voltam as províncias distantes e queixosas do abandono oficial.
Para Lourdes Gonzaga, professora residente em Belém, a divisão não mudará em nada a situação atual das regiões sul e oeste. De acordo com ela, o que vai acontecer será apenas uma mudança das famílias que estão no poder e maiores ônus para o governo federal.
A professora disse ainda que não vê no Estado do Tocantins tantas vitórias como estão sendo apontadas no movimento Pró-Tapajós e Pró-Carajás. “O Tocantins, que está sendo apontado como a terra das maravilhas por quem quer a divisão, apresenta uma grande desigualdade social e o poder foi transferido dos caudilhos goianos para outros caudilhos. Nada mudou”, destacou a professora. (Fernanda Cappellesso)